Após o inicio da Caminhada pela madrugada a partir de Brialhos, passamos por Vila Del Rey, de seguida surge a "montanha mágica" zona que antecede a localidade de Padron. Consideramos um dos locais mais emblemático do caminho. Vale a pena percorre-lo.
Cinco Amigos do concelho do Seixal, rumaram de comboio no dia 4 de Setembro de 2010, até Viana do Castelo e no dia seguinte fizeram-se ao Caminho, seguindo pelo Caminho Português de Santiago da Costa e depois pelo Caminho Monacal de Caminha pela Costa da Galiza.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Capela de Santa Marta-Espanha
Capela de Santa Marta local onde cumprimos uma promessa feita a Madre Superiora, Irma Tereza, do Convento das Freiras de Santo António (Caminha). O grupo rezou em uma só voz pela canonização da Madre Maria Clara do Menino Jesus (1843-1899), fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.
JORNAL DO SEIXAL
Jornal do Seixal, no Jacobeu 2010
Carlos Santos, Gilmar Freitas e Tomás Semedo vivem em Corroios e Carlos Tavares em Fernão Ferro. Costumam ir a pé a Fátima. Desta vez o destino era Santiago de Compostela e Jornal do Seixal acompanhou-os.
Jorge Henriques Santos
Três dos peregrinos já no ano passado se aventuram no caminho português de Santiago a partir de Ponte de Lima, este ano desafiaram outro amigo e Jornal do Seixal para tomar parte na mesma aventura, mas com saída de Viana do Castelo.
No sábado dia 4 pelas 7h da manhã concentraram-se na estação da Fertagus de Corroios rumaram a Entre Campos onde tomaram o Alfa direitos ao Porto.
Eram 12h e 30m na chegada a Campanhã, já os estômagos se lamentavam quando a proposta de Tomás Semedo levou os cinco a um restaurante seu conhecido de outros tempos na “Invicta” e que mantém a tradição de servir espectacularmente desde as tradicionais tripas “á moda do porto” aos filetes de pescada, que ali sabem como em mais lugar nenhum.
Reposto o aconchego nutriente chega a hora de tomar novo “trem” até Viana do Castelo. Cidade lindíssima, hospitaleira, embora pouco acostumada a este tipo de turistas com bordão, saco às costas e aspecto meio mendigo. Na praça central a escassos metros da pensão reservada, faziam-se testes de som para um programa musical que se previa imponente, mas longe de imaginar-mos o que ali nos esperava.
Começam a chegar grupos folclóricos da região, outros com trajes exóticos e de etnias diversas, sem demoras marcamos lugar numa esplanada defronte ao palco e sem contar estamos perante a grande “Gala de Despedida” do 14º Festival de folclore internacional do Alto Minho que contava com a participação de: grupos de Portugal, Lituânia, Irlanda, Cuba, Peru, Quénia, México, Turquia e Espanha. Um espectáculo soberbo e único para cada um de nós .
A noite foi mal dormida porque a ânsia na viagem a que se propunham os caminheiros também era grande e à partida contavam-se pelo menos com 200 quilómetros para percorrer a pé até Santiago de Compostela.
Pelas cinco horas da manhã já os cinco estavam na rua buscando uma saída da cidade, onde apesar da publicidade anunciada, nem os serviços de turismo sabiam do Caminho para Santiago. Àquela hora em sentido contrário vinham jovens, mais ou menos ébrios, dos delírios das discotecas, na “febre de sábado á noite”.
Seguimos pela estrada rumo a Caminha, até que com seis quilómetros já percorridos um pescador desportivo nos indicou que havia um caminho com setas amarelas, desde Viana, para o sentido de Santiago. Durante o resto do dia seguimos esse caminho e entre as setas e indicações pouco coerentes dos residentes locais. Não fosse a extraordinária prontidão do jovem Rogério, um guia turístico e amante dos caminhos que nos surge como uma “espécie de anjo enviado por Santiago”, e de bicicleta nos acompanha at´e quase ao destino, ainda agora por ali andaríamos. Fizeram-se ao certo mais de 30 quilómetros para os 17 que distam as duas cidades.
Caminha não tem Albergue para peregrinos e ao nosso ponto de apoio no Jornal do Seixal, pedimos para nos procurarem guarida em Caminha. Depois de tentarem os bombeiros e o senhor padre da Igreja Matriz, localizaram o convento da Freiras de Santo António que nos acolheram para a primeira noite de peregrinação, já com muitos quilómetros e várias bolhas nos pés.
A Madre Superiora, Irmã Teresa, pessoa muito culta e afável, encarregou-se da melhor hospitalidade, tinha cama para todos e pela manhã um soberbo pequeno almoço e ainda um pequeno avio a cada um para o caminho.. Aconselhou-nos a não seguir o trilho por Vila Nova de Serveira e Valença, pois pelo que sabia ainda era mais mal indicado que o anterior e sugeriu o “Caminho Monacal”, criado pelos antigos Monges de S. Francisco que dava seguimento ao Caminho Português da Costa, por A Guardia até Baiona. Com barco de Caminha para a cidade espanhola.
Na chegada a A Guradia já a diferença se notou muito grande no que concerne a informação e apoio aos peregrinos. Um posto de informações instalado na própria estação fluvial dispunha de todo o apoio, mapas, folhetos, simpatia e votos de boas vindas. Não foi difícil entrar no caminho de Santiago e seguir as sectas que entre paisagens deslumbrantes de mar, portos de pesca, viveiros, aldeias rústicas, santuários e cruzeiros eram emoldurados com a soberba vegetação das montanhas e o verde azul dos rios na sua foz, que de um lado e do outro se inclinavam para beijavar o mar brilhante lá no fundo.
Assim nos levaram “as setas amarillas” até ao próximo ponto de descanso, próximo de OIA num albergue privado, mas de excelente qualidade.
Nas cinco horas do dia seguinte já os cinco andavam no serpenteado do caminho das setas que em sobre e desce e entre monte e vale, rio e mar, com igual moldura que os levam até Baiona.
Aí surge um desencontro e o grupo quebra-se, a chuva já há dois dias que junto da hora de almoço nos fustigava, mas ambos encontrámos “famílias de acolhimento” entre os galegos, gente que mantém afabilidade, respeito e hospitalidade aos peregrinos do “seu Santiago”. Mesmo que sejam como o Rafael (dono da casa) que diz “eu estou aqui perto, mas nunca fui ver o Santiago, ele também me não vem ver a mim”, esquecendo que o vê em cada peregrino que lhe bate à porta e ele acolhe.
Chegados a Vigo não tem esta grande cidade também albergue para peregrinos e o acolhimento foi feito pelo “cura” Emilio e a Caritas Diocesana local que disponibilizaram o salão da Paróquia, na Igreja de Nº Srª do Rossio.
No quarto dia a tarefa mais difícil foi atravessar de ponta a ponta a grande cidade de Vigo, depois até Redondela foi um saltinho, a equipa já conhecia alguns truques para aliviar as dores nos pés e nas pernas e à medida que se vai aproximando verifica que muitos e muitos mais, andam por estes caminhos e com o mesmo destino: Duas jovens chinesas acompanhadas de um jovem espanhol, dois casais holandeses, muitos franceses, um grupo de mais de 20 jovens de Toledo, vários brasileiros, catalães, muitos portugueses do norte e alguns do Sul, andaluzes e madrilenos.
No dia seguinte para Pontevedra o cenário e o ambiente era idêntico, os 150 lugares do albergue, não chegaram para metade e muitos seguiram o caminho. Ainda aqui nos cruzámos com um grupo de peregrinos a cavalo. Os peregrinos de bicicleta surpreendiam-nos nas costas, por lhe barrar-mos o caminho, nas passagens mais estreitas “vale!, bom viagem, bom camino!” era a saudação geral com a mão que erguia os dedos em “V”.
A “Taberna da Avoa”, em frente ao Albergue de Pontevedra é gerido por uma transmontana casada com um galego, já bem conhecida dos três pioneiros de Corroios, reserva-nos honras especiais a “avoa” uma anciã de 89 anos também transmontana, delicia-nos com a sua memória prodigiosa com lengalengas e cantigas do reportório cultural popular português com mais de cem anos. Uma noite sublime.
Em Briallos, às 12h o Albergue está ainda fechado, a maioria segue para Caldas del Rei e por engano aí foram parar também dois dos elementos do Seixal. Acabamos por nos reunir aqui onde criamos confiança com uma familia que vem de Vigo: Ventura, Maria José (ambos na casa dos 50) e a sua filha de 14 anos Yolanda, que se juntam a nós até até Santiago. O canadiano Brits de 227cm de altura, também aqui surge mais tarde e segue com o grupo, nas jornadas seguintes, experimentou beber vinho verde da nossa taça, reforçando com mais três cálices de licores diferentes, oferta do taberneiro da manhã: O “redbul” como ele lhe chamou deu-lhe gaz e acelerou o passo à nossa frente, até que deixámos de o ver. Algumas horas mais tarde aprece com outro grupo atrás de nós, soubémos que a mistela lhe tinha causado diarreia e teria ido ao campo aliviar-se.
Foram 35 kms naquele penultimo dia para ficar-mos o mais próximo possivel de Santiago.
O Albergue de Teo, o último refúgio antes de Santiago, já apenas tinha três camas livres, atribuimo-los á familia de Vigo e convencemos o guarda a deixar-nos ficar no salão, com quatro colchões suplentes que ali havia. Reencontramos Brits, o canadiano que nos abraça com dois beijos, janta connosco e despede-se emocionado e com lágrimas, irá sair às 3h da manhã para chegar a Santiago e apamhar avião para Bruxelas às 12h.
Os ultimos 12km da ultima jornada foram os mais derradeiros, ou pela exaustão do cansaço geral, ou pela grande jornada do dia anterior, ou a própria ãncia de chegar. Parece que uma força malvada nos arrastava e impelia para não andar. Redobrada coragem para estes ultimos kilometros e chegar os grupo agora de oito, todo junto a Santiago.
O sentimento de vitória e regozijo colectivo era indiscritivel. As ruas e a praça da catedral estão apinhadas de gente, a fila para a “Compostela”, (certificado de peregrino) era imensa. Chegados ao fim, com aquele papel lavrado em latim, na mão, que outra coisa não vale senão a representação simbólica da consolidação do caminho, sentimo-nos como se tivessemos o troféu mais valioso alguma vez adquidido. Despedimo-nos dos amigos de Vigo, Maria José chora como uma criança, as suas lágrimas contagiam a filha, depois o marido e um a um, todos nós …
Restou a visita à catedral, a passagem na porta sagrada, o almoço e o regresso. Este proporcionado também pelo Rui Silva e Helena Simões, colaboradores do Jornal do Seixal que nessa ocasião estavam com uma excursão em Santiago.
Muito fica por contar do caminho, desde a discrição paisagistica das estradas romanas, pontes, riachos cintilantes, casas senhorias e espigueiros, bosques, vinhedos e imensas plantações de milho. Assim como as vivências, convivências e meditações que como outros cronistas têm descrito, “só comprende quem as vive”. Ou a conclusão a que em conjunto chegámos: só uma palavra o explica “O CAMINHO”
.
Subscrever:
Mensagens (Atom)